Faz um certo tempo que não escrevo aqui no blog. Andei bastante ocupado com meu application para
Fuqua School of Business (
leia-se Fu como few e qua como em qualified) da
Duke University e com a minha mudança para os EUA. Durante os eventos de "até logo", alguns amigos me perguntaram sobre o application, o que estudei, que livro usei, quais os contatos, enfim como foi o processo. Isso me motivou a escrever esse post, não só para os amigos, mas para todos os brasileiros que estão procurando saber sobre MBA nos EUA. Assim, ai vão algumas dicas, lembrando que os contatos são de Sampa e com o passar do tempo as informações poderão ficar desatualizadas.
1 - Tenha algum motivo forte para se candidatar agora ao MBA.
As motivações para se fazer um MBA são importantes e durante o processo isso será perguntado várias vezes. Não que isso seja imutável, mas é importante que as razões para se candidatar a um MBA, além de estarem alinhadas a sua estratégia de application, sirvam também como motivadores sólidos durante o processo.
Você verá que várias pessoas que começaram junto com você o processo desistirão pelas mais diversas razões: algumas serão promovidas (sim virar gerente pode levar muitos a desistir do processo), outras irão casar, outras simplesmente desistirão por descobrirem um caminho melhor para elas. Isso não significa que são pessoas piores, mas apenas que têm outras prioridades na vida. Muitas pessoas excelentes ficam pelo caminho por uma questão de prioridades. Assim, é importantíssimo ter um motivo que lhe mantenha vivo na árdua caminhada do processo de application.
Não se esqueça de ter uma boa razão de "timing" sobre o seu application. Por que é tão importante aplicar agora? Ano que vem não seria melhor? Você deverá ter uma boa explicação de porque agora.
Aproveito para falar da idade. Não existe idade "proibitiva", mas pessoas com boas histórias (diversas, com exemplos de liderança, experiência internacional, experiência com voluntariado, experiência de trabalho e formadas em escolas de excelência no Brasil), tem mais chances entre os 25 e os 28 anos. Para deixar os mais "velhinhos" ainda tranquilos eu fui aprovado com 31, mas não posso deixar de escrever que minhas chances estatísticas em várias escolas estavam reduzidas.
2 - Você não é apenas uma nota.
Aqui estou falando especificamente do temível
GMAT. Não vou negar que tirar uma boa nota no GMAT não lhe ajude no processo. A questão é que mesmo com um nota um pouco abaixo da média da escola que você pretende entrar ainda é possível ser admitido. O GMAT é apenas mais um critério de avaliação que irá compor o seu perfil juntamente com o seu histórico escolar, cv, essays e entrevista.
Nós brasileiros não estamos acostumados a provas altamente padronizadas como o GMAT. Além disso, a parte que avalia o inglês é feita para ser difícil mesmo para os nativos. Portanto, não é incomum que candidatos competitivos se preparem de alguma maneira. (Sim as pessoas estudam!!!) Alguns conseguem estudar por si só e tirarem notas boas. Eu, que estava em uma fase bastante alucinante no trabalho, não teria disciplina para isso. Utilizei a ajuda de cursos, professores e consultores especializados.
Mas Ricardo estou começando a ver tudo isso agora, como avaliar como está o meu GMAT? Isso é relativamente simples: basta você entrar
aqui e fazer o download do GMATPrep, um simulador da prova. Recomendo que faça uma simulação honesta, utilizando apenas as pausas previstas (e as utilize!!!). Com isso será possível verificar como você realmente está.
Caso você seja como eu e veja que precisa de um auxílio profissional, eu utilizei o curso de inglês
específico para o GMAT da
Philadelphia Consulting. É um programa intensivo voltado somente para aprimorar o inglês para a prova. Tem material próprio e método que proporciona a rápida evolução dos alunos (comprometidos com o curso!!!). Exige bastante dedicação e também organização do aluno para saber mesclar com a matemática. Eu deixei a matemática de lado no início o que prejudicou o andamento. Caso escolha a Philadelphia recomendo que você inicie o estudo de matemática junto com o inglês, dividindo o tempo entre eles.
Para a preparação de matemática eu fiz aulas com a
Profa. Luciana Chamie. Ela tem um estilo duro, mas é gente fina. Excelente para os engenheiros. Talvez você ache caro o valor-hora dela, mas ela otimiza demais o tempo, é extrema conhecedora da prova, tem um material excelente, melhor do que qualquer livro que você compre. Você ficará impressionado com a velocidade com que ela irá entender o que você mesmo fez e não se lembra! Ela consegue perceber rapidamente as suas falhas e lhe colocar nos trilhos de uma nota excelente.
Você irá encontrar uma infinidade de materiais para o GMAT na internet. Pergunte para as pessoas que fizeram o que realmente vale a pena. Tanto a Philadelphia como a Luciana tinham materiais próprios. Assim, não fui muito atrás de livros. O que eu fazia era procurar trechos das questões que eu tinha dúvida no google para encontrar a melhor forma de resolver. Recomendo os conteúdos dos sites
Manhattan Gmat,
Gmat Club, e
Beat the Gmat. Esses sites trazem discussões interessantes sobre as questões. O Manhattan inclusive possui
um pack de 6 provas muito interessantes. Recomendo que sejam compradas quando você estiver próximo a fazer a prova e com uma nota já relativamente boa. Essas provas tem um nível de dificuldade um pouco superior a prova original. Muito bom para treinar e pegar aquele ritmo final. De livros, utilizei apenas o
Official Guide Verbal Review. Mas mais do que materiais o importante é você ter um método e disciplina.
Várias escolas pedem, além do GMAT, a prova de TOEFL. Caso o seu inglês esteja muito enferrujado, é mais fácil começar a estudar inglês para a prova de TOEFL. A Philadelphia Consulting também oferece um curso específico para o TOEFL. Não foi o caminho que eu fiz. Estudei apenas para o GMAT, que é muito mais difícil que o TOEFL. Fiz uma, e apenas uma, aula particular para treinar o Speaking com
Emily Nicolau (eanicolau @ gmail.com) - uma americana gente boa especializada em RH. Também fiz alguns testes em casa com o
livro Cambridge Preparation for TOEFL Test. Para esse teste, pode ser difícil conseguir uma data nos meses de agosto/setembro na cidade de São Paulo. Por isso é importante agendar com antecedência.
Quando estiver estudando ou fazendo os simulados procure encontrar o período do dia (manhã ou tarde) em que você tenha o melhor rendimento e se possível, marque a prova nesse horário. Além disso, esteja aberto a utilizar um método diferente de resolução de questões, afinal não basta acertar mais; é preciso acerta mais e mais rápido.
3. Saiba vender bem a sua história.
É impressionante como pessoas com histórias de vida fascinantes tem dificuldade para contar e se vender bem. Nos applications é comum você ouvir o termo "alavancar" a sua história: dar uma "lustrada" e contá-la de uma maneira que se encaixe com a escola que você está procurando. Não quer dizer que você vai inventar aquela experiência profissional internacional maravilhosa que você nunca teve. Ainda mais porque mesmo se isso desse certo todas as informações que você passa para a escola são verificadas por uma empresa especializada nisso. Alavancar é selecionar as histórias que não poderão faltar nos seus essays e entrevistas e saber contá-los de forma a trazer à tona as suas características pessoas e profissionais que fazem de você o melhor candidato para uma determinada escola. As essays são redações que respondem a determinadas perguntas, como por que MBA?, por que a faculdade X, Y, Z?, por que você? história de liderança? de conflito? de falha?. As essays são complementadas na fase de entrevista e devem servir para complementar o seu cv, trazer detalhes de histórias que o cv não consegue e mostrar porque você deveria ser escolhido e não o seu 'amiguinho do lado'.
Nessa fase eu utilizei o aconselhamento do Paulo Cesar Oliveira da
Philadelphia Consulting. O interessante do método do Paulo é que ele passa uns pontos para você desenvolver e vai te ajudando com a estratégia de como fazer o melhor fit da sua história com a escola pretendida. Ao final do processo com uma essay bem original (dado que foi você quem escreveu) ele dá uma bela 'polida' na versão final. Para saber mais sobre uma determinada escola ou sobre o processo em si recomendo bastante o material do
Clear Admit. É um bom apanhado de coisas que você até poderá encontrar pela internet, mas de um modo que está logicamente organizado e pronto para ser devorado.
Por último, a famigerada entrevista. Normalmente as entrevistas são realizadas por ex-alunos das escolas (alumni). Algumas poucas escolas trazem pessoas do admission para fazer entrevista em São Paulo. Eu fiz minha entrevista nos EUA e fui entrevistado por um aluno do segundo ano. Foi tudo tranquilo, sem problemas. Mas o formato da entrevista foi seguido a risca.
Ja no Brasil, é impressionante como os alumni brasileiros não seguem as normas do admission. Primeiro que a entrevista pode ser em qualquer lugar (qualquer mesmo!). Em um café, na empresa do cara, na casa do entrevistador! As entrevistas que deveriam durar uns 45-60 min podem se prolongar por até 3h! Além disso, muitos entrevistadores trocam o idioma do inglês (recomendado e algumas vezes madatório segundo o admission) para o português. Sendo assim, em uma entrevista maior, você tem mais chance de se mostrar e fazer o rapport com o seu entrevistador. Muitas vezes você recebe o nome antes e aí é interessante você dar aquela fuçada básica no Linkedin, Facebook, Google dele ou dela. Assim, você já sabe de antemão o que falar durante o quebra gelo.
Para as entrevistas eu fiz duas sessões com a
Liliane Santos - Skype:liliane.santos7. Ela é especializada em moc interviews e faz isso há bastante tempo. Eu estava em Durham e ela em Washington DC, que apesar de 'perto' não valia a pena a 'caminhada'. Fizemos as sessões por Skype, ou seja, você pode fazer a sua sessão de qualquer lugar do planeta que tenha internet. Você pode treinar a entrevista com um colega que possa te dar um feedback sincero, mas mesmo assim, ainda recomendo a Liliane para lhe tranquilizar. Dado que ela está a bastante tempo nos EUA também poderá lhe dar umas dicas se o tom de como você conta as histórias está adequado. E isso também pode variar de escola para escola. No geral você precisa ser confiante, mas não arrogante, duas características separadas por uma linha tênue.
Seguindos esses três passos com trabalho
árduo e disciplina você terá suas changes consideravalmente aumentadas.
Dada a correria do dia a dia, a pressão do trabalho, a cobrança da
família e amigos, algumas vezes poderá lhe passar pela cabeça que não
irá conseguir. Pior ainda quando depois de muito estudo você ver a sua
nota dos simulados do GMAT cair ou quando você entra no jogo da lista
de espera. Quando isso acontecer dê uma lida no
meu post anterior.
Converse com pessoas queridas e próximas, aquelas que realmente torcem
pelo seu sucesso. Ao final, você verá que não foi tão difícil como
imaginava e terá o prazer de receber vários comunicados de "Admitted".
Sucesso no seu processo de application e qualquer dúvida entre em contato.
Perguntas frequentes
a) Não tive posição de liderança formal (supervisor, coordenador, gerente, etc), eu tenho chance?
Claro! Evidentemente que você terá que mostrar alguma história de liderança. As posições ajudam pois facilitam a sua exposição e consequentemente enriquecem a história em si. Mas se você não teve não quer dizer que está fora. Mas lembre-se as escolas procuram os lideres do futuro. Algumas histórias de liderança você tem que ter.
b) Qual a melhor época para começar o processo de preparação?
Os deadlines dos processos das melhores escolas começam em setembro/outubro para early action/first round. Assim, para você ter uma preparação menos puxada recomendo que inicie de novembro a fevereiro a se preparar para o GMAT, pensando em fazer a prova de maio a julho.
c) Sou mulher, tenho mais chance de ser aprovada?
Sim! A maioria dos candidatos são homens. Considerando que as escolas buscam maximizar a diversidade a entrada das mulheres é favorecida. Não quer dizer que você deva se aplicar de qualquer jeito que será aprovada, mas a vida é um pouco mais fácil para as mulheres devido a uma concorrência menor.
d) Não tenho grana para pagar o curso, o que eu faço?
Se você está lendo esse post, é porque você ainda não foi admitido. Não quero ser rude, mas dinheiro para pagar o curso não deveria ser uma preocupação sua nesse momento. Ah, Ricardo, mas eu estou querendo me planejar, etc etc. Ok, para matar a sua curiosidade a maioria das escolas oferece um empréstimos com juros baixos para pagamento de longo prazo (20 anos). Além disso, algumas instituições oferecem (poucas e concorridas) bolsas como a Fundação Estudar e o Instituto Ling.
e) Trabalho voluntário ajuda?
Quando você é admitido em uma escola, você entra em uma determinada comunidade. As pessoas dessa comunidade se preocupam se você irá contribuir para o crescimento e o aprimoramento desse grupo de pessoas. Recomendo que você procure experiências não só de "mão na massa", mas também ajudando na parte administrativa de uma ONG. Se você tem menos de 30 anos um jeito legal é nas férias fazer um intercâmbio social da AIESEC. Outro portal interssante para saber sobre trabalho voluntário é o Portal do Voluntariado.
f) Gostaria de ver outras alternativas para estudar, você teria outros contatos?
Não tive contato com esses profissionais, mas você pode procurar por:
Ricardo Betti - Aconselhamento de application.
Megaron - GMAT (inglês e matemática).
FKPartners - GMAT (inglês e matemática), aconselhamento de application.
Passou por alguns desses? Tem outras sugestões? Comente!
g) Onde eu faço o agendamento para o teste do GMAT e do TOEFL?
Ambos você deve fazer diretamente pelos respectivos sites: http://www.mba.com/ e http://www.ets.org/toefl/. O processo é tranquilo, mas é preciso agendar com antecedência principalmente nos meses de agosto e setembro.
h) Existe diferença entre se candidatar no primeiro ou no segundo round?
Em geral não existe diferença e a maioria dos brasileiros é se candidata no segundo round. Entretanto recomendo que acompanhe mais de perto as escolas de sua preferência e pergunte aos membros do admission ou ao seu conselheiro se existe alguma diferença.
i) Vale a pena?
Eu poderia citar Fernando Pessoa nessa resposta. Mas eu recomendaria você revisitar o passo 1. Objetivamente, se você está me perguntado se financeiramente vale a pena, eu acredito que sim e poderia até fazer umas continhas para você. Mas cada caso é um caso, e talvez se o seu motivo é apenas financeiro, talvez existam outras maneiras (legais) de se ganhar (mais) dinheiro.
Ricardo Capitanio
Ps: Caso queira saber mais sobre o processo ou como é a vida na Fuqua, deixe o seu comentário ou envie um email para meunome.capitanio@fuqua.duke.edu. Ah mas eu estou com vergonha, medo, etc. Bobabem: os mba students adoram falar sobre suas experiências e a sua faculdade. Aproveite!